terça-feira, 15 de março de 2011

O "belo" e o "cafona" se relacionam? Por quê?

O "belo" e o "cafona" se relacionam? Por quê?
Aqui sentada pensando sobre o que é belo, o que é cafona e como se relacionam me permito viajar em pensamentos que me fazem ouvir, como se tocasse verdadeiramente, uma música de Vínicius de Moraes. A música que ouço em minha mente é Garota de Ipanema e a frase que diz “Olha que coisa mais linda mais cheia de graça” me inspira. Nesse desenrolar de pensamentos lembro ainda de mais uma frase do Poetinha que disse: “As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental.
Algumas pessoas poderiam dizer que pensamento mais brega, sim porque cafona hoje também é sinônimo de brega no entender popular. Mas afinal de contas me pergunto o que é cafona e o que é belo?
De acordo com o dicionário Houaiss, belo é o que é admirável e cafona é tudo aquilo que revela mau gosto. Lembro-me de sempre ouvir que gosto não se discute e que a beleza está nos olhos de quem vê. Será que usar frases feitas também é cafona?
Essa estória de cafona começou com a moda; quem usava uma roupa que não estava em voga no momento era chamado dessa forma. A palavra acabou tomando um significado mais amplo, sendo usada em expressões que não envolvem moda, mas alguma coisa que não é cool (termo americanizado, modismo que muitos adoram e que outros acham brega), ou que não se enquadra dentro dos padrões modernos. Dá para ver que beleza e cafonice tem relação com o tempo; o que é considerado belo hoje pode não ser amanhã, o que é cafona hoje já esteve na moda algum tempo atrás e pode voltar a ser mais a frente.
Voltando a pensar no tempo, lembro-me que para Platão o belo é o bem, a verdade, a perfeição; existe em si mesma, apartada do mundo sensível, residindo, portanto, no mundo das idéias. Immanuel Kant, na sua Crítica da Faculdade do Juízo (1790) fala que a estética é um estado de vida de direito próprio, uma capacidade de fruição intimamente relacionada a outras capacidades cognitivas do ser humano, sem depender, necessariamente, da aquisição de conhecimento, ou seja: para contemplar o belo, o sujeito não se vale das determinações das capacidades cognitivas das faculdades do conhecimento. Na percepção do objeto, o sujeito abarca a plenitude de suas características e não as características isoladas.
O belo não é um objeto de existência material, mas de existência subjetiva, inerente à atividade espiritual de cada indivíduo.
Penso novamente na questão do tempo. As idéias mudam com o passar dos anos e com isso surgem novas formas, novos conceitos. O modelo de beleza na renascença não é o mesmo da modernidade. As mulheres pintadas por Botticelli e Renoir não encontrariam lugar nas passarelas onde figuram Gisele Bünchen, Isabeli Fontana e outras mais. As operas e os balés foram abrindo espaços para os Shows de Rock e tantos outros.
Se cafona é aquilo que não faz parte da modernidade, do que é atual, vejo, fascinada, que o tempo se encarregou de relacionar o belo e o cafona. Hoje há espaço para todos os gostos, todas as formas de pensar e de agir. Reafirma-se a idéia de que não há um modelo, mas a possibilidade de vários, que se fundem ou contradizem. O rock se relacionou com a ópera e criou-se a ópera-rock, o balé se relacionou com o samba e desfilou na Sapucaí, as sinfonias foram para as ruas, o cinema teve um caso de amor com o teatro e assim surgiram filmes como: A tragédia de Macbeth, Romeu e Julieta...
O belo e o cafona se relacionam porque o subjetivismo humano, o que permite o julgamento pessoal e individual do belo, bem como uma visão romântica do mundo, estabeleceu muito matizes para esta enorme tela chamada vida e cada um pinta seu quadro com a cor que quiser e a repinta quantas vezes quiser. O belo depende de cada um assim o ver em qualquer ato, em qualquer fato, em cada estação que irá chegar, e, ser cafona ou brega é não defender o que se gosta e o que se acredita e o que se quer.
(Texto de Tuane C. R. G. Vieira)
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