terça-feira, 15 de março de 2011

Qual a fronteira entre a competição e a dignidade?

Qual a fronteira entre a competição e a dignidade?

Analisando tudo e todos os seres que compõem este planeta vemos que inegavelmente as leis que regem a natureza se mostram atuantes em todos os aspectos evolucionais, porém ao ser humano há também a atuação de leis que regem sua conduta. Se para sobreviver os seres irracionais agem motivados exclusivamente pelos instintos, forças além de sua vontade, sem barreiras morais que lhes limitem a competição pelo espaço, alimento ou o que quer que seja, já os seres racionais agem utilizando o livre arbítrio, ou seja, a vontade. Segundo o filósofo Immanuel Kant "a vontade é uma espécie de causalidade dos seres viventes, enquanto dotados de razão". É a vontade que determina a ação e é a razão que determina a forma com que se vai praticar a ação. Sendo assim o ser racional tem como fronteira entre a necessidade física, objetiva, e sua necessidade emocional, subjetiva, tudo o que aprendeu em termos de leis morais que determinam sua dignidade como ser humano.
Observando a natureza vemos que é a competição que determina quem e como sobreviverá. O ser humano estabeleceu desde os primórdios do tempo uma competição intra-específica (entre indivíduos da mesma espécie) e interespecífica (indivíduos de espécies diferentes). Para lutar pela sobrevivência, os homens das cavernas se reuniram em grupos, assim aumentavam as suas chances de sobrevivência, estabelecia-se aí uma competição tanto com o meio quanto entre eles mesmos, pois era necessário se determinar quem seria o chefe do grupo, quem sairia para caçar, quem era o mais forte etc. Surgia socialmente a disputa através, principalmente, da reafirmação do ego (centro da consciência inferior ) submetido ao Id (reservatório da energia psíquica, onde se "localizam" as pulsões).
Refletindo sobre o mito bíblico de Caim e Abel, filhos de Adão e Eva, em que se presencia o primeiro fatricídio ocorrido nas escrituras, podemos concluir que o fato se deu pela competição estabelecida entre eles. Caim ao matar Abel deixou de lado toda uma barreira ética de conduta por se deixar levar pelos sentimentos de vaidade, orgulho e inveja. Toda dignidade devida a disputa entre os dois foi vencida, pois o ego (centro da consciência inferior)de Caim submetido ao Id (reservatório da energia psíquica, onde e localizam as pulsões) tornou-o imoral e destrutivo. O superego (censura das pulsões que a sociedade e a cultura impõem) não foi acionado pelo embotamento de sentimentos nobres e elevados. A vontade que determinou a ação objetivava um fim em si mesmo, a vitória a qualquer preço.
Segundo a definição de Kant, apresentado na 2ª seção da Fundamentação da Metafísica dos Costumes, a dignidade é o valor absoluto da racionalidade humana. O que atribui dignidade à uma pessoa é a sua natureza racional, ou seja, o fato de possuir vontade. Kant afirma nesta apresentação que a "dignidade é reconhecida como o valor de uma maneira de pensar". Este valor, segundo o filósofo, coloca-se acima dos valores de mercado ou sentimento por constituir-se um valor absoluto.
O conceito de dignidade possibilita o estabelecimento da relação entre a forma do princípio prático subjetivo (impulso) e a forma do princípio prático objetivo (razão). Os seres humanos querem objetivamente a lei da razão, mas, subjetivamente, as inclinações humanas contrariam a própria autonomia da vontade.
Objetivo é o princípio válido categoricamente para todos os seres racionais. A forma para atingir o objetivo é escolha pessoal. O preço da dignidade é definido intimamente em cada um, pois se o preço das coisas se estabelece no mercado a dignidade tem valor moral.
A dignidade das pessoas é o que lhes atribui valor absoluto, pois as caracterizam como fim objetivo. Se cada pessoa é um fim objetivo, então, diz Kant, nenhuma pessoa pode ser utilizada unicamente como meio. Isto significa que a dignidade "dos seres racionais – enquanto pessoas – põe um limite, em certo sentido, a todo livre arbítrio. Cabe aí a frase que diz: “o direito de um termina quando começa o direito do outro”. Utilizar-se de outro para atingir uma vitória pessoal além de amoral e formalizar pouca distinção pela própria capacidade de vencer.
Em nossa sociedade cheia de urgências e demandas de oportunidades o homem se vê diuturnamente envolvido nas mais diversas modalidades de competições, sejam elas esportivas ou não, reconhecer que os indivíduos estão acima de qualquer preço é reconhecer seu valor íntimo, é estabelecer uma fronteira entre a competição e a dignidade.
Introjetando princípios e leis que do ponto de vista da eternidade inverte a verdade individual como os ensinamentos do Cristo que diz:"não faz ao outro o que não queres que te façam” e "ama ao teu próximo como a ti mesmo exortamos toda a capacidade de transcendência humana que nos capacita eleger uma forma de proceder que nos impede de distanciarmos de valores éticos e morais que nos permite estabelecer limites para o exercício da vontade individual em benefício da vontade do outro, da família, da coletividade e da própria sociedade humana estabelecendo o limite entre a competição e a dignidade.

(Texto de Tuane C. R. G. Vieira)
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